Fazia tempo que eu não desenhava com compasso e régua. No começo eu sempre usava essas ferramentas, queria tudo certinho, retinho, no lugar.
Aos poucos fui soltando, achando mais bonitas as imperfeições, querendo que fosse torto de propósito.
Vejo que hoje eu combino um pouco de cada coisa.
O que as vezes me habita é um vazio de sentir,
um eco silencioso de uma sensação qualquer
Fico à deriva por dentro e por fora
em um mar de silêncio e solidão
[Vitor Uemura]
Meus passos são também os passos daqueles que me antecederam.
Minha voz é a ressonância das vozes do mundo, cantando juntes a música da existência.
Meus pensamentos tiveram origem na primeira consciência.
Sinto o desdobramento das emoções primordiais, que me transpassam como ondas invisíveis e ecoam pelo mundo.
[Vitor Uemura]
Há um silêncio de alma que me abrange,
como o oceano,
que abraça um mergulhador
[Vitor Uemura]
Vem a mim a ideia
de ser algo,
alguém,
e vem também
a contra-ideia,
de não ser nada
nem ninguém
[Vitor Uemura]
Sou como o eco de um grito não dado,
que se espalha pelo vale
e viaja junto ao rio
até encontrar o grande mar de vontades silenciadas
[Vitor Uemura]
Por vezes me deparo com uma parede de pensamentos sólidos
que me impede a passagem,
me bloqueia o ir e vir
E toda a fluidez das águas que sou, se vê contida,
armazenada,
parada
E toda a fluidez das águas que sou, se enrijesse,
perde o movimento
E de súbito, a parede se dissolve como açúcar,
e vem a enxurrada
[Vitor Uemura]
como as cores que lentamente se convertem em noite
[Vitor Uemura]
