A vida é um eterno desdobrar
um desabrochar sem fim
em constante mudança
Mas não uma mudança que tem objetivo
ou finalidade
e sim uma mudança pela mudança
uma derivação
um movimento de forças que constituem o fio da vida
é o fluir
Não há um modelo para seguir
ou um lugar onde chegar
Não há um modo de ser ao qual se aspira
ou um objetivo a ser atingido
Essa mudança
esse abri-se
ocorre por si só
pois não há como evitá-lo
ou pará-lo
há somente o vivê-lo
[Vitor Uemura]
As vezes penso que vim sem um par
ou que meu par é o mundo todo
Daí seria ímpar
tudo uma coisa só
Mas difícil imaginar uma coisa ímpar
se tudo é par
luz e sombra
tristeza e alegria
presença e ausência
até mesmo o todo ímpar deve ter lá seu parzinho
que quando se juntam viram um só de novo
um novo ímpar
num infinito de um e dois
que são dois que são um
[Vitor Uemura]
Me pensar diferente
me sentir de outra forma
como se eu não fosse quem sempre havia sido até então
como andar descompassado de mim mesmo
mas ao mesmo tempo junto comigo mesmo
O descompasso segue junto
mas em seu compasso próprio
e nesse
quem está em descompasso sou eu
Uma aberração cromática carrega as cores consigo
juntas
mas separadas ao mesmo tempo
separadas,
mas não independentes
interligadas
Há um eu diferente
que depende de quem sou
sempre atrelado à mim
mas não eu mesmo
pois há um infinito que sou
[Vitor Uemura]
Me importo com a chuva que cai lá fora
me comovo com o barulho do bambuzal que balança ao vento
são as mínimas coisas em movimento
que me trazem a lembrança
que a vida pulsa em tudo
a todo momento
a formiga que cruza o chão da sala
o estalar das madeiras em um dia quente
a poeira que aparece sobre as coisas
a grama que cresce depois da chuva
[Vitor Uemura]