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05 março 2024

448

Já faz um tempo que estou lendo o Livro do desassossego de Bernardo Soares; leio aos poucos, no trajeto de barco que preciso fazer para chegar no centrinho, então sempre navegamos juntos por cerca de 30 minutos; e flutuando nos parágrafos sempre encontro pedaços de mim mesmo boiando entre as palavras. São tantos, que talvez seja até possível me reconstruir ao final do livro.

448. Omar Khayyam
"Omar tinha uma personalidade; eu, feliz ou infelizmente, não tenho nenhuma. Do que sou em uma hora na hora seguinte me separo; do que fui num dia no dia seguinte me esqueci. Quem, como Omar, é quem é, vive num só mundo, que é o externo; quem, como eu, não é quem é, vive não só no mundo externo, mas num sucessivo e diverso mundo interno. A sua filosofia, ainda que queira ser a mesma que a de Omar, forçosamente o não poderá ser. Assim, sem que deveras o queira, tenho em mim, como se fossem almas, as filosofias que critique; Omar podia rejeitar a todas, pois lhe eram externas, não as posso eu rejeitar, porque são eu."