Pesquisar este blog

18 abril 2021

Mercado da atenção

Quanto custam 30 minutos da minha atenção ?

Venho me perguntando isso quando imagino o quanto de tempo eu já passei olhando para a tela do meu celular. O quanto desse tempo foi realmente útil para mim ?

Se eu me baseasse no valor que as empresas donas de aplicativos recebem com propagandas, seria possível até mesmo calcular o quanto vale minha atenção. Mas acho que quero apenas refletir sobre o assunto. Sobre esse tempo gasto com o celular, sobre a utilidade dele, sobre sua qualidade, sobre o que eu estaria fazendo com ele se não o estivesse usando dessa maneira, sobre o mercado que se estabeleceu em torno dele, sobre a mercadoria que a minha atenção se tornou.

E o engraçado é que entrego esse item valioso de graça para as empresas.


Tenho levado a ideia do distanciamento social para o âmbito digital também. Me afastei das redes sociais, apaguei os aplicativos de entretenimento e mensagem instantânea, parei de ver vídeos aleatórios e checar as redes, mesmo quando uso o computador. Quero que meu celular volte a ser apenas uma ferramenta que eu utilizo para fazer algo, quando tenho um propósito claro. Tudo isso porque não tenho maturidade suficiente para usar a coisa de forma regrada. Já que não sei brincar, não desço pro play.


Agora estou tentando me viciar em escrever, ler, fazer caminhadas longas, tocar música, cantar, desenhar, criar, e todas essas coisas de gente vagabunda que não tem nada melhor pra fazer. Estou me esforçando pra não ser produtivo, pra viver com calma e fazer uma coisa de cada vez, ou até mesmo não fazer nada e só ter consciência da vida.

13 abril 2021

Aqui

Sento-me aqui

como já me sentei antes em muitos outros lugares

à espera de palavras, linhas, traços…

Algo que eu possa colocar no branco do papel que sempre tenho a minha frente

Nesses momentos estou sempre só

Cercado por gente, mas só

E é isolado em minha solidão que a lágrima do coração faz seu caminho até a ponta da caneta, até tocar o papel.

Essa é minha ligação verdadeira com o mundo

Todas as outras formas de interação são meras superficialidades.

[Vitor Uemura]

12 abril 2021

Mínimo consumo

Há uma maneira de evitar o consumo ?

Em termos de alimento pode ser que eu consiga plantar grande parte daquilo que consumo, mas quando a coisa escalona para outras atividades, principalmente as criativas, fica um pouco mais difícil de produzir as ferramentas e matérias primas de que necessito para poder me expressar. Sem contar que é necessário uma certa mudança no estilo de vida também, para que haja menos necessidades que não podem ser produzidas artesanalmente.
Dificilmente serei capaz de produzir meu próprio computador. Mas se eu me esforçar para viver de uma maneira em que eu não precise de um computador, não terei que me preocupar em comprá-lo. É necessário simplificar a vida ao mesmo tempo em que se opta por viver daquilo que é possível produzir.
Além disso, é possível trocar coisas. Mas acredito que essa não deva ser uma opção fixa, pois ela pode variar bastante, ou seja, se rolarem trocas, ótimo, se não rolarem as trocas, minha vida continua do mesmo jeito. É como um bônus bom.
Qual o trabalho necessário para se plantar tudo o que se consome ?
Não tenho experiência suficiente para responder e nem ponderar muito sobre essa questão. Só acredito que é bastante trabalho, e trabalho pesado. Então nada de contar com muito tempo livre, pois a minha vida estaria atrelada à terra e suas variações.
Vale lembrar também que na natureza as vezes a coisa não anda como a gente gostaria. As coisas levam tempo, e também podem ocorrer desastres não esperados, que acabariam colocando em risco o plano.
Sendo assim, sinto que o primeiro grande trabalho a ser feito é sobre mim mesmo, sobre o que considero necessário para viver uma vida simples e boa, para viver bem. Eu preciso fazer muitas experimentações para saber o que realmente preciso ou não, para ver como as coisas me afetam. Um exemplo que tenho disso é o da cama; uns anos atrás eu resolvi trocar o colchão comum por um do tipo futon, muito mais baixo e fino e percebi que meu corpo se adaptou muito bem, inclusive eliminando dores lombares. Um tempo depois, resolvi tirar o futon e usar o tapetinho de yoga, e estou vendo que igualmente meu corpo se adaptou e estou conseguindo dormir normalmente, sem perder a qualidade do sono. Eu só pude perceber esse tipo de coisa através da experimentação, fazendo os testes comigo mesmo.
Essa busca por adequar os meios de vida ao que nosso corpo é capaz e ao que ele sente é bastante importante porque fomos doutrinados em muitas coisas antes mesmo de termos nossas próprias experiências, e então um trabalho de reavaliação e resgate de conhecimentos é necessário para que a gente possa ver o que realmente tem alguma importância na nossa vida e o que a gente vem fazendo de modo automático, sem ter se questionado sobre o assunto.
Essa investigação de si mesmo dura um longo tempo, porque é uma coisa bem pessoal, não é uma ciência exata que fornece pra gente um passo-a-passo pra seguir e checar situações. E pode ser que as coisas mudem no meio do caminho. É importante saber disso também.
Uma outra experiência pessoal que posso citar é a do desodorante. Desde sempre eu sabia que precisava usar desodorante, não tinha dúvida nenhuma sobre isso, e assim eu usava. Até que um certo dia na vida eu resolvi fazer a transição para os desodorantes artesanais feitos pelas pessoas que eu conhecia, e isso foi muito bom, logo senti a diferença entre os produtos. Mais um pouco de tempo passou e comecei a me questionar sobre usar ou não qualquer desodorante que fosse, até que resolvi fazer alguns testes e passar um tempo sem ele. No final eu fui vendo que é comum ter um cheiro no corpo, o meu cheiro por sinal, e que isso não me incomodava porque era natural, era a opção mais natural e simples que eu tinha, cheirar o meu próprio cheiro. E sabendo disso, sei também que outras pessoas tem seus próprios cheiros, e assim essa coisa de sentir nojinho do cheiro do corpo de outras pessoas foi se dissolvendo em mim, essa concepção introjetada em minha mente foi sendo quebrada.
Concluindo, vejo que não sou capaz de viver somente daquilo que produzo, mas sou capaz de mudar de forma drástica os padrões de consumo que me foram introduzidos como normais, e posso buscar uma maneira de viver bem mais simples e honesta. Não se trata de consumir carros elétricos, produtos naturais, orgânicos, familiares, artesanais, feitos com material reciclado, etc. Se trata de consumir menos, consumir o mínimo que for possível, e minimizar isso através de um processo de autoconhecimento e de quebra de padrões.

11 abril 2021

Símbolos da desigualdade

Outro dia ví um daqueles carros caríssimos passando pela rua, e a maioria das pessoas parava o que estava fazendo para admirar a máquina. De fato é uma construção muito bonita, executada com maestria, não tenha dúvida. Comecei a divagar sobre isso e fui vendo que não só os carrões atraem o nosso olhar, nós também costumamos admirar casas grandes, joias, roupas caras, e muitos e muitos outros objetos que são considerados artigos de luxo. Acredito que muita dessa admiração vem de forma inconsciente, por fazermos parte de uma cultura que predominantemente valoriza o acumulo de capital. Admiramos mas nem sabemos o porquê.

Tenho tentado praticar um outro olhar para esse tipo de objeto. Vejo-os como símbolos da desigualdade econômica e social que vivemos pois são frutos dela. Artigos de luxo existem para estabelecer posição social, para destacar a pessoa que os tem e separá-la da multidão. Se ficasse claro o quanto de morte, sangue, injustiça, miséria, fome e  exploração estão atreladas à esses objetos, eu duvido que eles continuariam sendo admirados e desejados. Mas todas essas coisas ficam encobertas de alguma forma, como uma venda sobre nossos olhos que nos impede de vê-las.

Cabe a nós fazermos esse exercício diário para tentar mudar nossa visão sobre o que é importante na vida. Acredito que por sermos seres sociais, essa visão do que é importante está intimamente ligada ao grupo social ao qual fazemos parte, está ligada às pessoas ao nosso redor, ao bairro por onde andamos e à tudo que nos cerca. Mas existe também uma porção mais concreta dela, menos variável, uma fagulha interna que parte de nossas almas e nos diz o que é importante no âmbito espiritual. É nessa luz que precisamos focar.

04 abril 2021

Movimento

Necessito o movimento

Seja do corpo

ou das emoções

Ou saio para andar

Ou me entrego ao mar,

de sensações

[Vitor Uemura]

02 abril 2021

Estagnação

Sinto uma estagnação

que nem furacão consegue mover

Sinto o passar das horas

o vazio das ruas

Como blocos densos que se pode tocar

O Tempo se materializou

posso vê-lo caminhar

[Vitor Uemura]